Aproximadamente um terço dos casos de infertilidade é resultado de um problema masculino, relacionado com a quantidade e ou com a qualidade dos espermatozóides.
A investigação inicial do casal infértil, realizada pelo ginecologista geral ou pelo especialista em reprodução humana, geralmente fornece o diagnóstico da infertilidade masculina. São bem conhecidos os parâmetros de normalidade do sêmen e, portanto, resultados anormais em espermograma sugerirão um problema masculino. Esse exame, realizado em uma amostra de sêmen, pode revelar anormalidades no número, na motilidade e/ou na morfologia dos espermatozóides.
O homem pode apresentar um baixo número de espermatozóides (menor do que 20 milhões de espermatozóides por mililitro de sêmen). O problema pode estar na pouca motilidade. Há, também, as alterações de morfologia, isto é, da forma dos espermatozóides, o que os torna incapazes de penetrar o óvulo. Em raros casos, o que ocorre é a falta de produção de espermatozóides (insuficiência testicular) ou, então, completa ausência de espermatozóides no sêmen ejaculado (talvez devido à obstrução). E, ainda, existem as situações em que o homem enfrenta dificuldades no momento da relação sexual, talvez devido à insuficiência de ejaculação ou impotência.
As alterações detectáveis através de um espermograma são: baixo número total de espermatozóides ou oligospermia (menos do que 20 milhões de espermatozóides por mililitro de sêmen); ausência total de espermatozóides no ejaculado, também chamada de azoospermia (falha na produção de espermatozóides, devido à insuficiência testicular, ou obstrução dos canais que transportam os gametas masculinos para serem ejaculados); baixa motilidade dos espermatozóides (dificuldade para penetrar o colo uterino e deslocar-se através das tubas uterinas para encontrar o óvulo); e, finalmente, alteração de morfologia, isto é, na forma do espermatozóide (prejuízo da capacidade do espermatozóide de penetrar no óvulo).
Podem também estar presentes dificuldades no momento do coito, isto é, insuficiência ejaculatória ou impotência. Mais recentemente, pesquisas científicas têm revelado que um número elevado de casais apresenta infertilidade de causa imunológica, ou seja, a parceira feminina produz anticorpos que destroem os espermatozóides. E, finalmente, observa-se um número crescente de homens cirurgicamente inférteis, após uma vasectomia, que desejam conceber com uma nova parceira.
Tratamento
A terapêutica a ser adotada dependerá dos resultados da investigação inicial e das taxas de sucesso. Dependendo da gravidade do distúrbio masculino, o tratamento pode ser simples ou complexo. As opções disponíveis são o tratamento medicamentoso, a inseminação artificial intra-uterina com superovulação (IIU), a inseminação artificial com sêmen de doador anônimo, a fertilização in vitro (FIV) e a fertilização através da técnica de injeção intracitoplasmática de espermatozóide (ICSI). O tratamento medicamentoso consiste em corrigir um distúrbio conhecido como hipogonadismo hipogonadotrófico, no qual os testículos não produzem os espermatozóides devido à estimulação hormonal inadequada feita pelo hipotálamo ou pela hipófise. São repostos os hormônios necessários (gonadotrofinas) para a estimulação testicular e produção dos espermatozóides. Alguns medicamentos têm sido utilizados também para tratar os casos de impotência. O objetivo da inseminação intra-uterina (IIU) é a introdução de uma quantidade de espermatozóides no útero da mulher, no sentido de facilitar o encontro entre esses espermatozóides e o óvulo e, desta forma, facilitar a fertilização. Na maioria dos casais, a IIU utiliza o esperma do marido/parceiro da paciente. No entanto, em determinadas circunstâncias, está indicada a utilização de amostras de sêmen de doadores anônimos. Este procedimento é reservado apenas para casos de infertilidade masculina nos quais o esperma do próprio marido/parceiro é completamente anormal (quantidade de espermatozóides muito baixa ou igual a zero, formato ou motilidade muito alterados). Estima-se que um entre oito casais com infertilidade necessita deste tipo de tratamento. A utilização de sêmen de doador deve ser discutida e bem aceita pelo casal. É um processo emocionalmente difícil que requer acompanhamento psicológico. A IIU não é eficaz nos casos em que há contagem muito baixa de espermatozóides ou alterações importantes na sua morfologia. A FIV é a técnica do “bebê de proveta”, procedimento amplamente praticado em todo o mundo. Em resumo, na FIV vários óvulos são removidos do ovário, fertilizados em laboratório com espermatozóides do marido/parceiro e os embriões resultantes selecionados são transferidos para o interior do útero da paciente. As modernas técnicas de preparo de sêmen podem melhorar a viabilidade das amostras de espermatozóides e tornar a fertilização mais provável. A infertilidade masculina vem sendo tratada com sucesso em muitos casos através de modernas técnicas de “micromanipulação” de gametas. A técnica que utiliza a injeção intracitoplasmática de espermatozóide (ICSI) permite a introdução de um único espermatozóide no interior de um óvulo e, assim, promover a fertilização. Desta maneira, a ICSI significa uma alternativa de tratamento para aqueles casos mais graves de infertilidade masculina e pode, em alguns casos, substituir a inseminação intra-uterina com sêmen de doador. A taxa de fertilização da ICSI está em torno de 70%. Os índices de gravidez e de crianças nascidas são muito semelhantes aos encontrados na FIV convencional. Essa técnica foi desenvolvida para tratar a infertilidade de homens que produzem pequena quantidade de espermatozóides e aqueles que não possuem nenhum espermatozóide no ejaculado, devido à obstrução ou outros distúrbios testiculares. Nesses casos, os espermatozóides podem ser obtidos diretamente do epidídimo ou do testículo através de uma punção ou microcirurgia e utilizados para a fertilização dos óvulos através da ICSI.